NEOCONCRETISMO – Vértice e ruptura.
Ronaldo Brito

 (...)
Vejamos agora a utilização que o escultor Franz Weissmann fazia dessas mesmas teorias. Não há dúvida de que trabalha a partir de uma apreensão do espaço intimamente relacionada com a Gestalt. Mas de que espécie e esse relacionamento? Talvez se possa chamá-lo libidinal, no mínimo, vivencial. O certo é que o seu trabalho esta longe de ilustrar um saber a priori e tira sua força de atualização, que produz no sujeito-espectador, da experiência de abordar o espaço. Ele é um feixe de possibilidades nesse sentido. A leitura do trabalho de Weissmann— chamado por Clarival do Prado Valladares de uma "teorização sobre o espaço" — se passa em níveis diversos e exige a participação do sujeito não apenas enquanto detentor de um saber, mas enquanto desejo engajado num processo de conhecimento. Não é que não se possa conceituá-lo, é que isso nos obriga a um tipo de formalização específica, irredutível ao pensamento científico e ao senso comum. O sistema de Weissmann acolhia as singularidades, não as tolerava apenas como resíduos. Pensar a presença das singularidades no âmbito da produção de arte apenas como transcendência idealista é típico das tendências construtivas (assim como é típico do Realismo Socialista tomar a especificidade do trabalho de arte por uma manobra da ideologia burguesa). Ainda assim o projeto de arte concreta brasileira procurava evitar o perigo de uma aridez racionalista — e o perigo de uma arte, digamos solipsista, que se esgotasse em si mesma — por meio de uma valorização estética do sensível e do existencial. Era o que Waldemar Cordeiro chamava de tornar a "geometria sensível", uma vontade de impregnar vivencialmente e estetizar a razão e a ordem. Algo talvez não muito distante do desejo neoplasticista de atingir uma harmonia universal através da compreensão de suas leis.
 (...)

©Ronaldo Brito - 1975
Funart 1985