Frederico Morais ABC de Weissmann

Mergulhado permanentemente no trabalho — seu ateliê fica no interior de uma fábrica de carrocerias de ônibus, nos confins da Avenida Brasil, em Ramos — Franz Weissmann fala pouco. Menos ainda sobre sua criação. Não chega a ser um tipo casmurro, muito menos ríspido, mas é certo que vive em permanente depressão e insatisfeito com os resultados obtidos. E sofre. Nos momentos mais difíceis, costuma dizer que o artista precisa beber o fel do cálice até a última gota. Entretanto, hoje, aos 66 anos, parece mais jovem. A introdução da cor em sua escultura parece tê-lo tornado mais alegre e comunicativo. De qualquer maneira, em 30 anos de carreira, são raríssimos os seus depoimentos. Do que disse, eis alguns tópicos:

• COR — "Utilizo a cor pintada em minhas esculturas com a intenção de dar mais força expressiva e dinâmica, comunicá-las mais, quebrar o silêncio da pureza geométrica. Com a cor, elas cantam mais, vão mais ao encontro do espectador. Utilizo a cor como instrumento de unificação. A cor une os elementos e os planos entre si, porque dá continuidade ao espaço. Quando quero criar contrastes de sombra e luz, ou de profundidade, uso cores distintas, exatamente com a intenção contrária, a de acentuar as diferenças de planos no espaço".

• DESENHO - "O fio é o limite do plano espacial, a concretização da linha, que é bidimensional. Por isso, minhas esculturas lineares determinam um espaço virtual, tornando-se como desenho no espaço".

• ESPAÇO — "Procuro uma contenção espacial. Toda escultura que não encerre um espaço denso, condensado em tensão, não me agrada".

• ESSENCIALISTA — "Minha escultura é uma consequência natural de minha necessidade de síntese: dizer com o mínimo de elementos. O mais no menos. E o nada no tudo, o tudo no nada. Uma espécie de comportamento Zen. Me sinto essencialista, porque procuro abranger, com minha escultura, um sentido mais transcendental. Minha escultura não se preocupa apenas com a economia de materiais. Tem um sentido mais metafísico, filosófico e espiritual".

• EXPLOSÃO — "Nem sensualidade nem explosão. Minha escultura não explode. Procura organizar-se com precisão no espaço. Repare que todos os meus trabalhos são fechados em si mesmos, a forma nunca se rompe, há sempre uma tendência para encerrar, conter o espaço".

• NEO-CONCRETISMO — "A gente quase poderia chamar o Neo-Concretismo de Concretismo latino-americano. O Concretismo nasceu na Suíça, um país de filosofia diferente da nossa. Aqui tudo influiu para as modificações: outro clima, outra filosofia de vida. Outra cultura, um conceito mais aberto de todas as coisas. Um Concretismo jovem só poderia nascer num país novo, como o nosso".

• TRANSITÁVEIS — "Sempre imagino minhas esculturas em dimensões monumentais, transitáveis, mas não habitáveis".

©Frederico Morais - Rio de Janeiro - O Globo, 22 / 05 / 1981