Em sua fase concreta/neoconcreta,
Weissmann atuou no sentido de anular a presença
do material, de torná-lo secundário ou acessório.
Para ele, então, o verdadeiro material não era o
alumínio, o ferro ou a madeira, mas o vazio.
Este vazio não era (não é), entretanto,
ausência de massa. Não é um buraco, o oco da forma.
Weissmann não esculpe dentro da tradição, isto é,
não desbasta nem agrega, ele cria espaços, lida
com estruturas. Assim, o vazio neoconcreto é, na
verdade, uma presença, é um espaço que se cria,
novo, surpreendente. É um silêncio que subitamente
grita e se faz ouvir. Na escultura figurativa, por
seu conteúdo narrativo, é mais difícil encontrar
o vazio como tendo uma expressão própria. Foi a
partir da arte concreta que ganhou autonomia, como
se pode ver em Cubo vazado (1950/1951), que é a
primeira obra rigorosamente concreta criada no Brasil.
Cubo vazado
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Nessa obra o vazio existe. E significa.
E esta descoberta, que se renova no espectador,
provoca uma grande euforia. O caráter inovador da
obra era tão perturbador que desorientou o júri
da 11 Bienal de São Paulo, que acabou por recusá-la.
Quatro anos depois, entretanto, receberia, na mesma
bienal, o prêmio de melhor escultor nacional.
O Cubo vazado (que na verdade deveria
ser chamado de "cubo virtual") é, de fato, uma obra
inusitada pelo contraste que o artista criou entre
aquilo que, nela, é real, tem matéria, peso, contorno,
que tem tactilidade, enfim, e aquilo que é imaterial,
impalpável, que é virtualidade pura. Esta obra ajuda
a esclarecer, definitivamente, a diferença entre
o simplesmente vazado (transpor a massa, ato mecânico)
e o vazio. Este é algo mais sutil: o espaço nasce,
emerge, desabrocha, manifesta-se virtualmente, mas,
quando o percebemos, impõe-se de tal maneira que
não conseguimos mais esquecê-lo.
Estrutura linear
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Estrutura linear, de 1954, pode ser
vista como a versão linear do Cubo vazado, sendo
constituída de dois cubos virtuais, que se interpenetram
sem perder sua individualidade. Num dos cubos, a
linha está pintada de preto; no outro, de branco.
É fácil para qualquer um fazer a transposição visual
entre as duas peças. (...)
Artista construtivo, Weissmann encontrou
no quadrado o arquétipo da beleza pura - o ângulo
reto como bússola a guiar sua criação. Arrancou
da matéria bruta o cubo virtual: o vazio, que é
silêncio. Fez dele uma realidade.
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