Conta-nos Weissmann que sua passagem de linha, da escultura figurativa para a abstrata e depois concreta, foi o resultado de um longo e penoso processo, iniciado com o impacto da I Bienal de São Pauto, onde o escultor compareceu com um trabalho.
- Sempre fiz escultura figurativa, trabalhando com diferentes materiais - diz. Foi educado, desde cedo, ver, fazer e esculpir a figura humana. Aos poucos, porém, essas figuras tornavam-se mais finas, mais construídas, com uma progressiva valorização dos espaços. O que era massa e figurativo representava a parte positiva, por assim dizer. Os espaços eram a parte negativa. Sem que me desse conta, numa evolução natural indeterminada, eu começava a dar maior atenção ao negativo. Principalmente quando fiz algumas peças com barro. Por fim o problema do espaço me absorvia integralmente e a massa, a figura, já não contava no meu trabalho.
(...). Encontra-se então com os fios, material que corresponde mais amplamente às novas pesquisas. Mas ainda com eles, insiste na figura humana que entretanto já pouco ou nada diziam. - O fio, que geralmente é de metal, ferro, aço, etc. apresenta uma outra dificuldade - explica o artista. É uma matéria que não se submete facilmente, tem atuação, é ativa, é fria, dura. Por mais que a sujeitemos a um determinado desenho, a uma determinada composição, ela atua intensamente, ao contrário do gesso, do mármore, etc. que é material passivo. Então temos de contar com esse novo fator, com esse inesperado e até impertinente colaborador. Esse novo interesse pela profundidade, pela quarta dimensão, pelos valores espaciais na escultura, sua atual indiferença pelos valores episódicos e anedóticos da figura, levaram facilmente Weissmann à escultura concreta.
E levaram ainda esse artista a ser o primeiro escultor concreto brasileiro jamais premiado num certame oficial no Brasil - a III Exposição Paulista de Arte Moderna. Perguntamos a Weissmann se em sã consciência poderia chamar "escultura" ao trabalho com fios; se "esculpir" era disciplinar fios. Quem como ele teve sua experiência de verdadeira escultura, no que o termo apresenta de etimologicamente fiel, poderia responder. - Na verdade isso não é uma escultura, tal como se entende por esculpir. Eu chamaria, digamos, desenho no espaço, montagem, qualquer outra coisa. Creio que é preciso inventar outro nome, pois esse não se adapta verdadeiramente. As técnicas evoluem entrando por setores que é preciso batizar... Jayme Mauricio – Correio da Manhã – 15/8/1954 |