Mario Pedrosa
A escultura do Salão
(...)
E, finalmente, chegamos ao elou do salão: é a representação de Franz
Weissmann. Sua escultura é de puro espaço, nos antípodas de qualquer
lembrança figurativa. Das esculturas que querem exprimir o espaço, e
que podem ser classificadas em quatro ou cinco grupos, a sua é a dá
linha no espaço. Weissmann não se Interessa nem pela trama ou a
grade de três dimensões, nem pelos planos dos corpos transparentes.
E no salão, nada expôs como superfície no espaço.
O ganhador do premio da quarta Bienal paulista apresenta-se agora
com um conjunto em que as suas qualidades plásticas e o seu poder de
invenção estão confirmados, como por assim dizer acrescidos, quer
dizer, integrados, por uma realização, um acabamento, um afinamento
com o material a. que ainda não tinha chegado.
Havia antes na obra de Weissmann uma certa hesitação no acabar, o
que, se, por vezes, lhe emprestava especial encanto, mais
freqüentemente, deixava uma impressão de idéia ainda não
amadurecida. Outro senão seu era a inabilidade em encontrar solução
satisfatória para apoiar suas construções no espaço. É que o artista
concebia suas obras como um desenho no espaço e não como uma
construção do espaço. Sua fecunda imaginação plástica fabricava
magníficas idéias espaciais, mas nem todas saiam do esboço para a
realização. Agora, porém, tomou ele nova consciência dos materiais,
e levou com decisão a idéia até o fim, até a plena transposição
material. E todas suas obras assentam no chão, com magnífica
naturalidade:
Três pontos é, nesse sentido, de uma solução modelar.
Ponte ergue-se sobre uma base cúbica, em cuja estática sólida se
firma para expandir-se no espaço como planos diáfanos, nos quais se
inscrevem figuras lineares, em ritmos de contrastes simétricos.
Torre tem o cubo por módulo,e, em três séries de variações
angulares, projeta no espaço os desenhos rítmicos mais imprevistos e
belos, numa verdadeira fragrância formal, pura festa visual. Três
Pontos
é um dinâmico jogo de três circunferências que se interpenetram e
criam, a cada momento, e não apenas a cada ângulo visual ou face,
novas perspectivas, numa fascinante sugestão multidimensional. É de
uma poderosa concepção e descreve o espaço epicamente. Com essas
obras, Weissmann sagra-se, em definitivo, um completo escultor,
dentro e fora do salão, aqui e alhures.
©Mário Pedrosa - Jornal do Brasil - 17 / 07 / 1958