presentar esta exposición weissmann
no es presentar la escultura weissmann
el escultor weissmann
las esculturas de esta exposición
son una explosión en el edificio de una escultura
cuya función fué siempre
hacer de la tierra cristal
en el método de un escultor
cuyo gusto fué siempre
el perfil claro y solar
he aquí que un día weissmann que vino a europa como turista de pevsner de gabo de bilí de ulm y de otras ciudades de claro urbanismo y que fué al japón como turista de aquellas frágiles arquitecturas de jaula he aquí que weissmann pasó por la india y por trópicos más estentóreos que el de su altiplano brasileño y en los cuales las cosas se multiplican en millares de otras cosas más y se desparraman en excesos materiales de si mismas y he aquí que el espectáculo de tanto exceso de cosas y de materia túrgida parece haber llevado a weissmann a dudar si la realidad puede verdaderamente llegar a ser no ya cristalizada sino siquiera dominada y a dudar si la actitud del hombre ante la realidad no estará más bien en escudriñar su desorganización natural que en imponerle cualquier organización y he aquí a weissmann trabajando ahora con yeso y estopa como vemos en estos primeros documentos que nos expone en esta sala pero no ya para refinar el grano grueso que tienen el yeso y la estopa en su pobre estado industrial sino destrabajándolos para devolverlos al estado de fibra desgreñada y de caliza en bruto que tuvieron en su día natural y he aquí a weissmann destrabajando ahora las placas metálicas de perfil y superficie simples que salen de los laminadores sólo que ya no para equilibrarlas en las columnas aéreas de antes sino para destrozarlas y aplastarlas como queriendo enseñarles de nuevo el gesto áspero y torturado de su estado más antiguo de mineral y hierro viejo y he aquí que en esta exposición vemos por primera vez al antiguo constructivista weissmann que no sólo martiriza la materia que emplea sino que intenta destruirla y despedazarla sometiéndola a la violencia de esa explosión en que él habita o que en él habita en los últimos tiempos y que nada tiene que ver con las explosiones de los fue-gos-de-san-juan de las mil familias de informalistas de la pintura y de la escultura de hoy en día que viven de copiar formas convencionalmente estalladas al igual que las familias de academicistas de tiempos atrás vivían de copiar formas convencionalmente barnizadas y he aquí por qué ahora aquí dentro de la sala de esta exposición estamos como en el mismo centro de la explosión weissmann y rodeados por todas partes por los destrozos que ha lanzado con tanta violencia contra las paredes que la rodean y he aquí a weissmann
quien sabe de weissmann
quien sabe que trabajar o destrabajar
es para weissmann llegar al fin del carrete
y quien sabe
que fué desenrollando un hilo de paciente trabajo
que llevó al diamante weissmann de antes
sabe más
y por eso anticipa
que incluso antes de que acabe de caer
el polvo de esta explosión
estará weissmann
con tal caliza y tal chatarra
de vuelta a construcciones de razón como las de antes
de las que irradian
el gusto de un mundo de luz sana y limpia
por consiguiente
justo


João Cabral de Melo Neto
Galería San Jorge - Madrid
1962

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Exposição Franz Weissmann
João Cabral de Melo Neto


apresentar esta exposição weissmann
não é apresentar a escultura weissmann
o escultor weissmann
as esculturas desta exposição
são uma explosão no edifício de uma escultura
cuja função fora sempre
fazer da pedra cristal
no método de um escultor
cujo gosto foi sempre
o perfil claro e solar
e eis que um dia weissmann que viera à europa como turista de pevsner gabo maxbill escola de ulm e de outras cidades de claro urbanismo e que fora ao japão como turista de suas leves arquiteturas de gaiola
eis que weissmann passou pela índia e por trópicos mais estentóricos do que os de seu planalto brasileiro e nos quais as coisas se multiplicam em milhares de mais coisas e se esparramam por excessos repetidos de si mesmas
eis que o teatro de tanto demais de coisas e de matéria túrgida parece ter levado weissmann a duvidar se a realidade pode verdadeiramente vir a ser já não digo cristalizada mas simplesmente domada e a duvidar se a atitude do homem diante da realidade não estará melhor em aprofundar a desorganização nativa dela do que impor-lhe qualquer organização
e eis que weissmann agora trabalhando com gesso e estopa
como vemos nestas primeiras amostras que nos expõe nesta sala de madri mas já não mais para refinar o grão grosso que têm o gesso e a estopa em seu pobre estado industrial mas sim destrabalhando-os para devolvê-los ao estado de fibra desgrenhada e de calcário bruto que tiveram em seu dia original
e eis weissmann agora destrabalhando as placas metálicas de perfil e superfície simples que saem dos laminadores só que já não mais para equilibrá-las nas colunas aéreas de antes mas para massacrá-las e amarrotá-las como querendo reensinar-lhes o rosto áspero e torturado de seu estado mais antigo de minério e ferro-velho
e eis que nesta exposição vemos pela primeira vez o construtivista weissmann transformado neste destrutivista weissmann que não só martiriza a matéria mas tenta estraçalhá-la e destruí-la submetendo-a à explosão dessa fúria em que ele habita ou que nele habita nestes dias e que nada tem a ver com as explosões dos fogos-de-são-joão das mil famílias de informalistas de hoje-em-dia que vivem de copiar texturas convencionalmente domesticadas
e eis porque agora aqui dentro da sala desta exposição estamos como que no mesmo centro da explosão weissmann e cercados por todos os lados pelos destroços que ela lançou com tanta violência hoje contra estas paredes espanholas
e eis weissmann
quem sabe de weissmann
quem sabe que trabalhar ou destrabalhar
é para weissmann chegar ao fim do carretel e quem sabe
que foi desenrolando um fio de trabalho paciente que ele chegara ao diamante weissmann de antes mais
quem sabe
e por isso antecipa
que antes mesmo de que pouse de todo o pó desta explosão
estará weissmann
com toda essa caliça e essa sucata
de volta às construções de razão como as antes das que irradiam em torno
o espaço de um mundo de luz limpa e sadia portanto
justo

Museu de tudo, Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1975.
 

©João Cabral de Melo Neto

 

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