Exposição Franz Weissmann João Cabral de Melo Neto apresentar esta exposição weissmann não é apresentar a escultura weissmann o escultor weissmann as esculturas desta exposição são uma explosão no edifício de uma escultura cuja função fora sempre fazer da pedra cristal no método de um escultor cujo gosto foi sempre o perfil claro e solar e eis que um dia weissmann que viera à europa como turista de pevsner gabo maxbill escola de ulm e de outras cidades de claro urbanismo e que fora ao japão como turista de suas leves arquiteturas de gaiola eis que weissmann passou pela índia e por trópicos mais estentóricos do que os de seu planalto brasileiro e nos quais as coisas se multiplicam em milhares de mais coisas e se esparramam por excessos repetidos de si mesmas eis que o teatro de tanto demais de coisas e de matéria túrgida parece ter levado weissmann a duvidar se a realidade pode verdadeiramente vir a ser já não digo cristalizada mas simplesmente domada e a duvidar se a atitude do homem diante da realidade não estará melhor em aprofundar a desorganização nativa dela do que impor-lhe qualquer organização e eis que weissmann agora trabalhando com gesso e estopa como vemos nestas primeiras amostras que nos expõe nesta sala de madri mas já não mais para refinar o grão grosso que têm o gesso e a estopa em seu pobre estado industrial mas sim destrabalhando-os para devolvê-los ao estado de fibra desgrenhada e de calcário bruto que tiveram em seu dia original e eis weissmann agora destrabalhando as placas metálicas de perfil e superfície simples que saem dos laminadores só que já não mais para equilibrá-las nas colunas aéreas de antes mas para massacrá-las e amarrotá-las como querendo reensinar-lhes o rosto áspero e torturado de seu estado mais antigo de minério e ferro-velho e eis que nesta exposição vemos pela primeira vez o construtivista weissmann transformado neste destrutivista weissmann que não só martiriza a matéria mas tenta estraçalhá-la e destruí-la submetendo-a à explosão dessa fúria em que ele habita ou que nele habita nestes dias e que nada tem a ver com as explosões dos fogos-de-são-joão das mil famílias de informalistas de hoje-em-dia que vivem de copiar texturas convencionalmente domesticadas e eis porque agora aqui dentro da sala desta exposição estamos como que no mesmo centro da explosão weissmann e cercados por todos os lados pelos destroços que ela lançou com tanta violência hoje contra estas paredes espanholas e eis weissmann quem sabe de weissmann quem sabe que trabalhar ou destrabalhar é para weissmann chegar ao fim do carretel e quem sabe que foi desenrolando um fio de trabalho paciente que ele chegara ao diamante weissmann de antes mais quem sabe e por isso antecipa que antes mesmo de que pouse de todo o pó desta explosão estará weissmann com toda essa caliça e essa sucata de volta às construções de razão como as antes das que irradiam em torno o espaço de um mundo de luz limpa e sadia portanto justo. Original em castelhano de 1962 para o catálogo da Galeria San Jorge - Madri. Em português: Museu de tudo, Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1975. |