Franz Weissmann

Fitas

Fitas - Texto de: Frederico Morais

coluna essencialista

1985

(...) O vazio e a sombra (virtualidades contrapostas: o não-ser e o duplo), a repetição (estrutura modular), a permutação, o corte, a dobra e a torção estão entre os elementos que compõem a poética weissmanniana. De todos esses elementos, o mais fundamental parece ser a torção, que está presente ao longo de quase toda a sua criação, apesar de nem sempre percebida. (...)

Weissmann não torce volumes, planos contínuos, massas. Não torce nem retorce torsos humanos, expressionisticamente. Nem colunas, barrocamente. Nem volumes, borrominicamente. Torce vazios, por absurda que possa parecer essa afirmação. Torce o que ainda não existe, virtualidades, atuando nos interstícios dos planos, no espaço.

(...) A introdução de um novo elemento em seu vocabulário plástico, a fita, que vem depois do cubo, da chapa, da coluna, da torre, da cantoneira e da canaleta, estimula mais ainda o emprego da torção, tencionando o espaço e dinamizando a estrutura. A palavra "fita", empregada por Weissmann, deve ser entendida em seu sentido literal. Trata-se de uma longa e estreita superfície de aço, delgada, como se fossem tiras de papel ou tecido, e que ele faz subir e descer uma, duas, três vezes em suas colunas, ou que dobra, aqui e ali, em distâncias e ângulos irregulares e que serpenteiam ou parecem ziguezaguear no chão, como uma serpente.

Na Coluna de duas fitas ('essencialista' 1980/1985 figura ao lado), a torção está localizada no extremo inferior de uma das fitas/planos, mas o impacto tensionante se estende por toda a estrutura vertical, revigorando o espaço. Essa pequena e quase discreta torção ao pé da coluna não apenas cria um espaço imprevisto, como reforça, no olhar do espectador, o seu caráter ascensional. Um frisson percorre toda a peça, criando uma formidável fonte de energia espacial. Noutras colunas, a torção se dá no centro da peça: o quadrado resultante distribui simetricamente a tensão criada.

 

 

Fita vermelha

 

A Grande fita vermelha, de 1985, multiplica o número de torções, isto é, de pontos de tensão, marcando o ritmo dinâmico da peça. A escultura rasteja, serpenteia e dança, surpreendendo com suas bruscas mudanças de percurso, pedindo ao espectador que também circule em torno dela, que faça festa. Ou fita. Sabe-se que Calder teve a idéia de seus móbiles vendo os quadros de Mondrian. Na base da obra de ambos está a linha reta (em Calder é o fio de prumo). Calder percebera que a reta não é senão a curva colocada em sua tensão máxima. A Grande fita vermelha faz lembrar uma estrutura sanfonada que pode ser alongada ou reduzida conforme a maior ou menor pressão das mãos. Na sua origem, portanto, é apenas uma reta, que a partir de uma sucessão ritmada de dobras-torções quase se faz curva: Bernini serpenteado na grama. Mais à frente, a torção desarticula o cubo, de um faz dois (cubos virtuais): xifópagos.

Toda torção guarda a memória do corpo: torso, torcicolo, torcer, dobrar-se, vergar-se. As estruturas torsas de Weissmann também. As mãos do artista estão ali, subjacentemente. Vergando, inclinando, encurvando, encaracolando, labirintizando ou desarticulando cubos, formas em u, canaletas, cantoneiras, fitas ou colunas. A escultura que o espectador tem diante de si guarda, íntegro, o ato criador do artista, gênese permanente. (...)

 

Consultar... A usina criativa de Franz Weissmann - Frederico Morais - Revista Piracema -1994

 


 

 

 

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